Rafael Reis
Queria voltar a viver, e acordar com o simples desejo de respirar. Achar graça do que não tem graça alguma. Rir dos meu amigos, reclamar do meu trabalho, sair à noite sem ter pra onde ir e sem ter hora pra voltar. Fazer planos mirabolantes, que talvez nunca aconteçam. Fingir atuar no filme da minha própria vida, e fazer do cotidiano uma bela trilha sonora. Me apaixonar estupidamente, trair a razão e me desiludir. Chorar, ter pena de mim mesmo... dormir e fazer tudo de novo no dia seguinte. Vislumbrar o fim de semana como se fosse o paraíso, fazer das horas; segundos por desejar que fossem anos. Esperar muito da vida, mas sempre me sentindo bem com o puco que tenho. Me surpreender comigo mesmo, me decepcionar comigo mesmo, odiar o outro como à mim mesmo, e às vezes ama-lo mais do que a mim mesmo. Me sentir poeta, compositor, artista, e no segundo seguinte me sentir ninguém. Me sentir especial, me sentir apenas mais um. Questionar a sabedoria do próprio Deus, blasfemar, e pedir perdão por tamanha tolice. Fazer amigos, perdê-los, deixar que alguns deles partam e sentir falta de todos eles, mas sempre fazendo novos para que possam ser lembrados também quando um dia por acaso eu os abandonar. Escrever uma canção que só eu cante, e que quando cantar, que só eu saiba que é pra você. Morrer de amor, desejar a morte e mesmo assim permanecer vivo. Pegar a estrada, sonhar que no fim dela haja um lugar melhor. Chegar, ficar, partir, sentir saudades, voltar. Criar raízes, e levá-las comigo, correr na chuva e pensar que isso é liberdade, quando não é nada mais do que “correr na chuva”. Ver o mar, e deixar-se encantar por ele. Pisar descalço na areia e desejar que você e toda aquela beleza sejam um só, e que nunca precisem se separar. Odiar o que é novo, criar novidades, deslumbrar-se com elas. Amar o que é velho, resgatá-lo e aprender com ele, seja isto bom ou mal. Precipitar-se, se jugar certo, e aprender da pior maneira possível que nada é como imaginamos. Aceitar as coisas como são, as pessoas por seus defeitos, a vida por suas infelicidades e afins. Sorrir para o dia, esteja ele nublado, chuvoso ou ensolarado. Amar, e pensar no próximo antes de pensar tão somente em mim. Redescobrir as formas, quebrar tabus, ditames e clichês, e por fim enxergar-me como alguém capaz de tornar o mundo um lugar menos hipócrita, egoísta, e cruel, e no entanto mais feliz.
Rafael Reis, 21 anos, nascido em 06/09/1990 em contagem , Mg. Estudou música em Itatiaiuçu, e aos 14 anos aprendeu violão e sax. Cantor e compositor, hoje vive na cidade de Betim onde leciona musicalização infantil para crianças de 3 à 4 anos, e faz shows em bares da região.
